Era já perto das 6 da tarde quando meu louco ônibus ia chegando. Aqui cedo o sol de põe. Por esse horário já eram os últimos raios na muralha cor-de-rosa de Jaipur, a capital. Do lado de fora, o que se tornou a cidade pós-colonialismo: crescimento desgovernado, falta de infra-estrutura, pobreza. Do lado de dentro, o mundo é cor-de-rosa, literalmente. Muitos dos prédios da cidade são em arenito róseo, e os demais, a maioria, foram todos pintados de um rosa cor de goiaba - e assim o são desde 1876, quando o então rajput Marajá Ram Singh, que governava esta região sob a supervisão dos ingleses, resolveu que toda a cidade seria pintada com "a cor da hospitalidade" para a visita do Príncipe de Gales, que viria a se tornar o Rei Edward VII da Inglaterra.
Entrada do centro de Jaipur |
Essa doçura com os ingleses não foi à toa. Os Rajputs, sempre brigando entre si, acabaram cedo ou tarde subjugados pelo Império Mogol (islâmico) nos idos do Séc XVI, e ficaram como vassalos do imperador. Com a aparição dos ingleses e os mogóis perdendo força, os rajputs viram logo a oportunidade de dar o golpe. Resultado: deram fim nos mogóis, e os rajputs retomaram o controle da região, ainda que sob supervisão comercial inglesa, que tirava uns lucros enquanto fazia indulgências aos marajás.
(Aqui vale uma nota de esclarecimento. "Marajá", ou "maharaja" nas línguas da região, são os rajputs - ou reis - de mais alto grau. Havia uma série de rajputs vassalos, e sub-vassalos, estilo Idade Média européia em que haviam reis, príncipes, duques, condes, etc. - toda uma hierarquia).
Em Jaipur, praticamente a cidade inteira é cor-de-rosa, e o desenho da parte central foi todo feito de acordo com um antigo tratado (no sentido de "obra escrita", não de "acordo") hindu de arquitetura, Shilpa-Shastra. Blocos retangulares e avenidas amplas recheadas de bazares, cada uma dedicada a uma espécie de produtos - tecidos, joalheria, alimentos, etc. Hoje, claro, "tá tudo dominado", e as ruas são um caos completo. A fauna de que falei no post anterior não entra tanto aqui, exceto pela boiada, que com uma tranquilidade búdica - como os donos da rua - passeiam numa boa no meio dos carros e carroças.
Na cidade meu guia foi o primo do marido de uma amiga minha. (Hehehe, a vida se faz formando relações, hehe). Perguntei a ele se as vacas não ficam agressivas de vez em quando. "Às vezes", diz ele. E elas têm chifres! Na novela botaram aquele novilho, provavelmente com medo que Tony Ramos tomasse uma chifrada, mas aqui as vacas e touros têm chifres bem avantajados. O que eu vi foi fulaninho tentando laçar vaca sem sucesso, e a vaca se afastando no meio do trânsito - que pára para bovinos mas não para humanos - aí fica o cara lá olhando de longe a vaca se distanciar do outro lado da rua, hehe.
No centro de Jaipur, o Palácio da Cidade, onde ainda hoje mora o marajá, alto rajput da região. Sim, eles ainda existem. Não têm o mesmo poder político de antigamente, mas são ainda influentes e ricos. Na rua, os homens do Rajastão, aqueles de famílias originárias daqui, quase todos usam um brinco de ouro - visto em nenhuma outra parte da Índia. Os homens mais velhos também tem bigodes frequentemente avantajados, e às vezes um turbante de determinada cor. Antigamente, a cor indicava qual era a sua região de origem dentro do Rajastão.
Patio central no palacio de Jaipur. |
Como já tinha me ajudado tanto, não quis criar caso. Aqui na Índia não tem BigMac, o número 1 é o McVeggie. Hehehe. Não servem nada que tenha carne de boi ou porco (esse por causa dos muçulmanos da região, que não comeriam no estabelecimento se lá fosse servido carne de porco). E estava com meu McVeggie, comendo no McDonald's depois de um longo tempo, logo na Índia...
Mas nesse dia nós ainda visitamos muito mais coisa. Pegamos um certo congestionamento no caminho...
No meio do caminho havia mais do que uma pedra - havia um elefante. |
...hehe, mas aonde fomos chegamos a tempo. Fomos ao Amber Fort, nas colinas próximas à cidade. (Não, não quer dizer "forte de âmbar", o nome Amber vem da deusa Amba, homenageada quando o forte foi construido em 1592, antes de Jaipur existir).
Vista do Amber Fort |
Patio de entrada do Amber Fort. A subida de elefante se tornou popular entre turistas, mas eu não usei. Estavamos de carro, alem disso o bem-estar dos elefantes nesse sobe-e-desce o dia inteiro debaixo do sol é duvidoso. |
O forte fica no alto das colinas, de onde a área era governada antes de Jaipur ser fundada (em 1727). De um lado, o Portão do Sol, a entrada do leste. Do outro, o Portão da Lua, que leva à vila que se formou nesses arredores, com templos e comércio. No interior do forte também muitas áreas, como jardins, pavilhões, torres e uma série de câmaras revestidas de milhares de pedacinhos de espelho.
O lugar é mágico, faz você se sentir naquela época dos aventureiros e caravanas do deserto. Lembra um filme de Aladim ou alguma coisa assim. Pra sentir ainda mais a magia da região, confere esses aí abaixo. Primeiro, o Hawal Mahal, ou Palácio do Ar, construído pelo rei local para que as mulheres da realeza pudessem observar toda a vida lá nas ruas da cidade. O nome vem das várias entradas de ar nessa fronte do palácio.
Hawal Mahal, ou Palácio do Ar, no centro de Jaipur. |
E por fim o Palácio das Águas, Jal Mahal, uma morada sobre o lago.
Jal Mahal, ou Palácio das Águas, nos arredores de Jaipur |
E a jornada pelo Rajastão continua; primeiro rumo ao sul, dos lagos e colinas, e em seguida, finalmente, a oeste, na direção do Grande Deserto de Thar.
Esse post foi um misto de aula de história e páginas da National Geografic com fotos belíssimas!
ResponderExcluirParabéns!!!
Beijos e continue com Deus nesta jornada fascinante pela Índia.
Ah eu poderia ter me maravilhado com as belezas dos locais aqui citado, mas o que mais me chamou atenção: mairon comendo no mc donalds... é 2012 minha gente, apertem os cintos.
ResponderExcluir