sábado, 18 de setembro de 2010

Duas rodadas de tuk-tuk

E lá eu estava, saindo do Qutub Minar, essa área de ruínas históricas do post abaixo. Já estava escurecendo, a mosquitada sai ao ataque - como no Brasil. Mas eu resolvi que ainda queria ver mais coisa antes de voltar em casa. Tinha ouvido falar do famoso Templo da Lótus, um dos marcos de Delhi, e resolvi verificar.

Agora a parte emocionante: pegar um desses tiozinhos motoristas de tuk-tuk que aaaaaamam turistas. Claro, turista nunca sabe o preço de uma corrida, e eles aproveitam pra cobrar o dobro do que normalmente seria. Deixa eu explicar. O tuk-tuk tem um taxímetro (ou "tuk-tukímetro", como queira) mas aí é que entra o dilema: se você exige ir pelo medidor, eles fazem uma "circular" com você e pegam o caminho mais longo. A outra opção é, a que eles preferem, negociar o preço. Só que como negociar se você não faz idéia do preço justo?

Tio Bhalla havia me prevenido: "Bote ele pra ir pelo medidor e diga que vá por não-sei-aonde". E assim foi. O cara esperneou, tentou botar o preço, disse que o medidor estava com defeito, eu disse que então ia pegar outro tuk-tuk, e de repente o medidor ficou bom.

Olha aí ó, novinho até. No caminho passamos por um bocado de lugares diferentes. Barracos, avenidas, vi um grupo de vacas...  

Rodada de tuk-tuk. Em cima o preço, embaixo a kilometragem. Na rua, a zona que você espera: moto, tuk-tuk, bicicleta, ônibus velho, pedestre no meio dos carros e, de vez em quando, algumas vacas que ficam zanzeado pela cidade.

O interior do tuk-tuk lembra um pouco táxi brasileiro. Em vez de uma imagem de Nossa Senhora, tem adesivo de Krishna, ou imagenzinha de Lord Ganesha, etc. O cidadão normalmente dirige descalço (aliás, aqui eles fazem quase tudo descalço), e de dois em dois minutos dá uma cusparada - às vezes daquelas densas em que o cuspe custa a desprender. Como tudo é aberto, de vez em quando você toma umas salpicadas de água de poça também.

Mas entre mortos e feridos salvaram-se todos. Cheguei no Templo da Lótus. Dentro não há muito além de um amplo espaço de oração, com flores bem arranjadas, bancos de madeira, e um altar branco um tanto neutro. O espírito é servir a professante de qualquer religião - ou mesmo espiritualistas sem religião fixa. O Templo é construção da Fé Bahá'í. Alguns já devem ter visto o nome em perfil de Orkut, o povo sempre vê isso, nunca sabe o que é, e bota porque é exótico, hehe. Na verdade, essa fé é tipo uma religião universalista; diz que todas as grandes religiões no fundo compartilham os mesmos princípios, e prega a fé no Deus único e a união dos povos. Foi iniciada por um persa (atuais iranianos) no século XIX, Bahá'u'lláh.


Templo da Lótus, em Delhi. Todo em mármore branco com um total de 27 "pétalas". O Templo da Lótus é um local de oração da Fé Bahá'í, que abraça todas as religiões como iguais, argumentando que todas elas pregam os mesmos princípios básicos.
Hora da segunda rodada. Saindo do templo me senti um pedaço de carne; como é atração turística, no momento que eu passei do portão já vieram uns 3 ou 4 tuk-tukeiros pra cima de mim. "Ei ei ei!", não-sei-o-que, vambóra! vambóra! Tentei usar toda a minha serenidade recém-polida no templo da lótus. Eu disse que queria ir pra uma estação de metrô que eu sabia ser perto, eles não gostaram. Na verdade, eles detestam o metrô. Antigamente eles cruzavam a cidade, nesse tráfego que leva horas pra se ir de um ponto a outro; hoje em dia o passageiro só pede pra ir até o metrô, e pimba.

Aí vem eles com aquela cara de que quer o seu dinheiro e o olho de quem está bolando alguma coisa criativa pra lhe dizer. O indivíduo me solta: "É o dia final do Ramadã, é festa, eu lhe levo pra fazer umas compras e depois lhe deixo no metrô". Eu: "Que compras o quê meu amigo, eu quero ir pro metrô e pronto".

Não deu jeito, nenhum deles aceitou que eu não estivesse interessado em compras (não nos bazares onde eles recebem comissão pra levar turista, e onde tudo custa o olho da cara). Andei mais um pouco e achei um que me levasse. Aí você acerta um que aceite levar pelo medidor, e senta crente que a batalha acabou. No meio da corrida, a surpresa: "Eu vou lhe levar numa outra estação de metrô que é mais perto". Poutz.

- "Não, não, não, eu quero a que eu lhe disse".
- "Nessa estação que eu vou te levar você vai economizar 20 rúpias na passagem do metrô".

Aprendi que aqui na Índia é igual resposta de menina: "Talvez" quer dizer "Sim". E aqui "Não" quer dizer "talvez". Me disseram que pra dizer não mesmo, você ignora. Como eu respondi, ele tomou isso como um talvez e acabou me levando na tal outra estação. Acabou sendo mais perto mesmo, mas a história de economizar 20 rúpias estava aumentada. Enfim, deixei ele ficar com o troco, já que são miúdos mesmo.

É como um fulano me disse outro dia: "Eles fazem com os ocidentais em pequena escala o que o Ocidente faz com a gente em grande escala". Claro que não adiantaria dizer que eu, brasileiro, não estou envolvido nisso. Mas enfim, acho que no fundo é verdade.


2 comentários:

  1. Super moderno o tuk-tukímetro! Agora a poça na foto é que mostra a cara real da cidade... Mais histórias, mais, mais, mais! :)

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  2. Sempre gostei desses tuk-tuks, até acho que não seriam ruins no Brasil - contanto que fossem usadas portas, para proteger adequadamente das intempéries e até de objetos arremessados, intencionalmente ou não, na direção do veículo.

    http://cripplerooster.blogspot.com/2010/12/triciclos-uma-alternativa-para-aliviar.html

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